Não sou favorável a ser o melhor amigo dos filhos.
Antes que a minha declaração soe polêmica e insensível, eu já explico: é um acúmulo egoísta de funções. Você precisa deixar o posto vago para que os filhos ampliem o seu círculo de afetos. Que eles tenham os seus próprios amigos longe do círculo do lar, que possam encontrar a sua família fora do sangue: aqueles irmãos da cumplicidade e da experiência, da lealdade e dos desafios em comum. Ser o melhor amigo dos filhos é querer tudo de alguém.
É querer preencher todos os espaços protetivos. Aumentará assim a dependência. Eles não terão condições paterna e materna, que nem sempre são perfeitas, nem sempre são corretas. Ficarão sem anticorpos sociais, sem a vivência da rua e dilemas do cotidiano.
Haverá ainda o trauma de viver à sombra, de não conseguir superar o exemplo dos antecessores, de buscar agradar a qualquer custo e de adoecer correndo atrás dos ideias de perfeição. Precisam do contraponto da sua idade e de conselhos da sua geração para arejar os os critérios e renovar o coração.
É esquisito um pai ou uma mãe dançando na mesma festa dos filhos. É esquisito o pai e mãe se divertindo de igual para igual com os coleguinhas. Tudo tem um limite. A independência dos relacionamentos resultará em respeito e admiração. Há pais que buscam a supremacia da influência, partilhando contravenções com os filhos para parecerem legais e descolados. Ensinam o adolescente a beber, ou a dirigir em alta velocidade, ou a seduzir mentindo. Só falta embrulhar o baseado.
Não preservam seu lugar de autoridade, misturando o próprio passado com o presente, na ânsia ser mais inconsequentes do que aquele que é realmente jovem. Pai e mãe devem ser pai e mãe, assumindo as responsabilidades da sua faixa etária.
Não serão figuras muito simpáticas. Às vezes, se mostrarão desagradáveis impondo fronteiras para os desejos insaciáveis e incentivando o cumprimento das obrigações. Vão censurar sorrindo e cobrar as verdades nos momentos de preguiça, como ao não acreditarem que não existem deveres da escola e espiarem os cadernos na mochila.
Seus papéis correspondem a fiscais do crescimento saudável, investigando e comprovando se palavras e ações se equivalem, exigindo que os filhos participem das atividades domésticas, que mantenham os quartos em ordem e as leituras em dia, que realizem os banhos, a higiene e as refeições no tempo certo. Não tem como ser melhor amigo dizendo não para o filho.
O poder do veto é imprescindível para não criarmos monstros irrefreáveis, desprovidos de compaixão e empatia. Até porque a vida não é para amadores, merece ser conquistada com suor e esforço. Passar a mão na cabeça unicamente faz o filho perder o juízo dentro dela.
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