Amor e Desamor
(poema em três atos)
I. Prisão Doce:
Se o amor for uma prisão, serei réu.
Se a liberdade for o desamor, assumo a culpa
e aceito, sem arrependimento,
a pena máxima da prisão perpétua.
Trancado nos muros do teu olhar,
cumpro cada dia como quem reza.
Teus beijos são grades suaves,
teus abraços, algemas de seda.
Não peço indulto, nem liberdade,
porque fora de ti —
sou apenas ausência,
sou só um nome sem corpo,
um eco sem voz.
Chamam de loucura, eu chamo de destino.
E se amar é crime,
que me condenem quantas vezes for preciso —
mas que nunca me tirem
a cela do teu coração.
II. Liberdade Injusta:
A cela ficou vazia.
O silêncio agora ocupa o lugar onde antes tua voz fazia morada.
As grades que me cercavam —
teu toque, teu cheiro, teus olhos —
enferrujaram com a falta.
Fui solto.
Sem julgamento, sem aviso, sem direito à última visita.
E essa liberdade que tantos sonham
é para mim o exílio mais cruel.
Ando pelas ruas sem correntes,
mas cada passo é pesado,
como se ainda arrastasse o peso
do que fomos.
Descobri que a pior prisão
é ser livre demais...
e não ter onde ficar.
O mundo me oferece portas abertas,
mas nenhuma leva até ti.
E o tempo, esse carcereiro disfarçado,
me obriga a viver em liberdade —
sentenciado a lembrar.
III. Ressurgir:
Recolhi os cacos.
Não para reconstruir o que éramos —
mas para me lembrar de que fui inteiro,
mesmo antes de ti.
A saudade ainda vem,
mas já não grita.
Aprendeu a sussurrar,
como quem pede licença
para existir sem machucar.
A liberdade que antes me feria
agora me veste com leveza.
Não sou mais prisioneiro,
nem fugitivo.
Sou sobrevivente.
Te amei — com todas as dores e delírios.
E foi amor, mesmo que tenha acabado.
Mas agora, me amo.
E isso também é revolução.
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